“Foi um mergulho em muitas coisas que a gente nem imagina que sente. E foi incrível. Uma trajetória honrosa e divertida.” Assim define Marcela, a décima segunda eliminada do ‘Big Brother Brasil 20‘. Depois de deixar a casa com 49,76% dos votos do paredão disputado com Babu Santana e Flayslane, ela olha com carinho para sua trajetória no programa, para suas escolhas e para os momentos que protagonizou ao defender seus valores. “As circunstâncias são aquelas e a gente faz o que está no coração, age com o que tem de informação, com as nossas percepções dentro da casa“, justifica.
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Neste bate-papo, ela conta como foi ser julgada pelo relacionamento que escolheu viver no confinamento, fazer parte da “comunidade hippie” e quais eram suas leituras do jogo.
Foram 12 semanas de confinamento. Você pensou que chegaria à final do BBB 20?
O ‘Big Brother Brasil’ foi muito intenso. Foi um mergulho em muitas coisas que a gente nem imagina que sente: medo, insegurança, monstrinhos que moram dentro da gente. E foi incrível. Uma trajetória maravilhosa, honrosa e divertida. Eu tinha bastante insegurança porque achava que outras pessoas eram mais fortes dentro da casa. Desde o começo foi bem difícil para mim me sentir segura. Mas eu sonhava chegar à final.
No início da temporada, você foi apontada pelo público como uma das favoritas ao prêmio e ganhou milhões de seguidores nas redes sociais. Mas, em determinado momento, começou a perder um pouco desse favoritismo. Como você observa essa virada na sua trajetória no programa?
Eu ainda não entendi muito bem o que aconteceu. Mas, do que eu vi de ontem para hoje, muitas das atitudes do Daniel foram passadas para mim como se fossem atitudes minhas. O fato de ele levar as punições, o comportamento dele dentro da casa foram atribuídos a mim também, como se eu e ele fôssemos uma pessoa só. Eu tentei várias vezes corrigir e conversar com ele sobre isso lá dentro. Nunca deixei de sinalizar as coisas que eu achava erradas, inclusive na vez que ele foi machista com as meninas e eu fui a primeira pessoa a falar que ele deveria pedir desculpas para a gente. Mas acho que as pessoas pegaram ranço dele aqui fora e ele foi atribuído a mim também.
Você já conseguiu entender o que aconteceu?
Algumas falas que apontaram eu vi que foram tiradas fora do contexto, como a que eu teria dito que iria colocar o Babu no VIP para limpar a cozinha, por exemplo, sendo que eu só disse que ia dar muito conflito. Acho que a fala foi totalmente distorcida. Fui acusada de ser uma pessoa racista, eu comentei dentro do programa: como coletivo, a gente é uma sociedade racista. O que posso dizer é que nunca tive nenhuma atitude intencional dentro da casa. Tentei o tempo todo me policiar com relação a isso. Mas se mesmo assim algo que eu disse incomodou alguém, eu só tenho que pedir perdão porque a pessoa é quem pode me dizer se isso machucou ela ou não. Mas eu quero que as pessoas me perdoem por coisas que eu realmente disse, não por fake news.
Por que você acha que foi eliminada?
Pelo que eu vi aqui fora a narrativa mudou muito e tudo que eu falava começou a ser visto de maneira diferente. Acho que o fato de eu votar nos meninos com constância também virou uma questão para as pessoas. E aí começaram a surgir frases que eu não disse, coisas que não falei… Foi uma junção de coisas.
Quais foram os melhores momentos da sua participação no BBB?
Tem tanta coisa! O momento das meninas juntas obviamente foi muito forte para mim. Foi confuso e intenso, mas muito forte. A chegada do Dan e da Ivy também foi muito importante porque eu e a Gizelly estávamos extremamente inseguras e nos sentindo totalmente erradas e julgadas lá dentro. A segurança que eles transmitiram para a gente foi muito boa. A prova de resistência que a Thelma acabou ganhando também me marcou muito. Foi para mim, mesmo não tendo ganhado, uma superação. Eu estava com o pé machucado e fui muito mais além do que eu imaginei que conseguiria ir. Foi muito importante.
E o mais difícil?
O pior momento foi logo depois do conflito com os meninos, quando algumas pessoas começaram a questionar a mim e a Gizelly sobre estarmos dizendo a verdade.
Na sua percepção, como a entrada da Ivy e do Daniel mudou a dinâmica do jogo?
Mudou tudo dentro da casa! Fortaleceu bastante a mim e a Gizelly porque a gente estava muito frágil e insegura no começo do jogo. Mas nunca foi um lugar de soberba. Essa visão é a que me deixa mais chocada. Nenhuma de nós achou que tinha todas as respostas. A gente continuou com muito medo, mas em relação àquela questão do machismo a gente se sentiu muito feliz e validada. Também tinha se formado um grupo em volta dos meninos que acabou se desfazendo e mudando a estrutura do jogo.
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Particularmente falando, qual foi o impacto dessa entrada para você?
Foi uma bênção e foi ruim ao mesmo tempo porque atrapalhou completamente a minha leitura. Eu não consegui entender direito o que as pessoas estavam pensando. Ao mesmo tempo todo mundo dizia que eu agora era forte. Eu não sentia isso. Sabia que era uma coisa pontual, que a história do jogo ia mudar muito, mas que eu ia ficar arrastando esse estigma. Não sabia direito a intenção das pessoas que estavam se envolvendo comigo. Foi muito confuso. E eu falei isso várias vezes dentro do reality, por isso me surpreende as pessoas acharem que eu tinha alguma soberba em relação a isso.
Na segunda dinâmica de pódio, você escolheu o Daniel em vez da Thelma para estar na sua final. Ela em algum momento deixou de ser sua prioridade?
Acho que essa escolha soou para as pessoas como se eu tivesse priorizando o Daniel em detrimento de uma amiga. Mas na verdade eu fiz ali a escolha de não ser hipócrita. A Gizelly sempre foi a minha prioridade da casa e continuou sendo. Em relação à proximidade e conexão, naquele momento eu estava mais conectada com o Dan e vivendo os dias intensamente com ele. Ele me fazia muito bem dentro da casa. Por isso eu fiz essa escolha.
Quando a Thelma recebeu o castigo do monstro da Ivy e do Daniel, alguns participantes comentaram que você a deixou de lado quando ela mais precisou. Como você enxerga essa situação?
O Daniel já tinha dito em vários momentos que em relação à Mari a Thelma não era uma prioridade dele. Assim como a Thelma tinha a proximidade dela com o Babu, por exemplo. Eu achava que, mesmo sendo a comunidade hippie, todos tinham direito de ter afinidades fora daquele grupo. Mas também pode ter sido um erro meu no sentido de que eu era muito “de boa” com relação ao monstro, várias vezes pedi para darem para mim. Eu não via como algo tão pesado, via como uma coisa que fazia parte do programa. Eu fiquei ao lado da Thelma em vários momentos durante a tarde e à noite tomei a decisão de ficar perto do Big Fone porque eu estava cansada de o jogo ficar muito na mão do Prior e do Babu. Acabei ficando perto da Flay nessa hora e muito próxima da Thelma também, com a oportunidade de ela ficar junto da gente, se quisesse. Nunca foi em caráter de exclusão. Conversei com ela depois e ela me disse que tinha entendido e estava tudo bem.
Era difícil interpretar a visão do público a partir das eliminações a cada semana?
Era muito difícil. Até certo ponto a gente a achava que as pessoas estavam tendo a mesma visão que a nossa lá dentro porque todos que a gente imaginava estavam sendo eliminados. Mesmo o Pyong, que era um amigo nosso, a gente tinha dúvidas sobre o jogo. Imaginávamos que era uma postura que poderia levar à eliminação. Quando o Daniel saiu acho que foi o primeiro momento que a gente pensou: “Eita, acho que não estamos entendendo o que está acontecendo lá fora”. A visão de dentro do programa é completamente diferente da que o público tem. Os conflitos de convivência pesam bastante para a gente e aqui fora não pesam tanto, por exemplo. Cometemos o erro de gostar de alguém e começar a ter um olhar mais amoroso para essa pessoa e, quando temos um conflito com alguém, temos um olhar mais pesado em relação às atitudes dela. É uma outra leitura.
O público chegou a shippar você e a Gizelly no início do programa. Quando você ficou com o Daniel, ela sentiu ciúmes. Como você administrou isso?
A Gizelly é ciumenta desde o começo (risos)! Desde que o muro caiu ela teve ciúmes da relação de todo mundo lá dentro. Com o Daniel não foi diferente. Eu achava engraçado, para mim era inédita essa situação. Mas eu nunca vi a Gi como uma potencial parceira dentro da casa, no sentido amoroso. Quando o Daniel contou que as pessoas aqui fora shippavam a gente, eu falei: “O quê? Como assim? A Gi é hétero, é minha amiga aqui dentro, não tem nada disso”. E eu levava numa boa, não me incomodava. Era até bom esse ciúme porque ela me fazia prestar atenção e pensar nos momentos de ficar com ela. E ela estava sempre no meio do relacionamento (risos)! Foi ótimo e muito engraçado.
O público aqui fora também questionou a sua postura em relação ao Daniel, afirmando que você o protegia das críticas dos brothers em relação às regras do jogo. Como você avalia sua posição?
Eu conversei com ele lá dentro, chorei, fiquei chateada pelas atitudes. Só que eu, que estava convivendo com ele, via que vinha genuinamente de um lugar de muita ingenuidade. Talvez por isso eu tenha sido um pouco protetora, sim. Eu não via como uma atitude maldosa. E é muito doido porque a nossa visão de convivência lá dentro era muito diferente da que o público tem. E uma vez que o ranço está instalado, que acho que foi o que aconteceu aqui fora (risos), tudo é visto como muito ruim.
Você sempre fala que o Daniel te fazia muito bem. O que você identificou nele que era tão bom para você?
O Daniel foi uma surpresa boa e maluca. Tinha uma ingenuidade e pureza que há muito tempo eu não via em ninguém e era muito transparente em relação à visão de vida dele. A gente tinha muitas coisas em comum e ele era um refúgio. O Dan tinha uma coisa que eu adorava que era ficar alguns momentos sem falar do jogo. Lá dentro é necessário dar uma desligada. Às vezes o clima estava pesado, a Gi estressada querendo falar sobre as estratégias, e eu deitava com ele em algum canto e conversava sobre coisas nada a ver, olhava a lua… Isso me fazia bem. Ele me fazia perder um pouco o controle, no bom sentido, ser mais criança, curtir, fazer guerra de espuma (risos). Me fazia lembrar que tudo bem perder o controle às vezes. Foi muito dolorido para mim o dia em que ele saiu.
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O que você espera desse relacionamento aqui fora?
Foi tudo tão maluco que primeiro eu preciso me inteirar de tudo, ouvir o que minha família tem para me dizer, e conversar com ele. Não tenho a menor noção do que esperar de um relacionamento com o Daniel, talvez eu tenha que comprar uma máquina de estalecada (risos). Eu vejo nele muitas coisas lindas. Acho que a gente tem uma conexão muito legal que podemos tentar resgatar e entender como pode funcionar aqui fora. Foi uma história muito especial para mim. Eu sei que o confinamento faz tudo ser mais intenso, mas chegou um momento em que eu percebi que realmente estava apaixonada. Vai ser uma caixinha de surpresas bem engraçada, provavelmente.
O que a comunidade hippie representou para você?
Para mim foi muito lindo. Começou de uma maneira muito doida, comigo, Thelminha, Gizelly e Pyong excluídos da galera, Rafa e Manu perdidas. A gente se uniu brincando e de repente, quando vimos, as pessoas foram saindo e nós, os mais esquisitos, ficamos. A gente realmente tinha uma afinidade. Não foi uma união comum. Na verdade todo mundo tinha uma insegurança e escolheu a dedo com quem queria conviver, assim a gente acabou ficando perto de pessoas que realmente tinham princípios em comum com a gente. Foi bem precioso. Eu ficava muito triste quando as pessoas falavam que a comunidade hippie tinha acabado porque ela marcou a minha trajetória.
Deseja manter essas amizades aqui fora?
Com quem quiser, eu quero muito! A Gizelly não sai da minha vida nem que ela queira (risos). Manu é uma pessoa com quem eu me identifico muito também. Estou doida para conversar com o Pyong. Thelminha, Ivy, Rafa… Todos que estavam ali são pessoas que eu quero levar para a minha vida. Lá dentro a gente tem umas picuinhas muito pequenas que, para o público, podem até parecer grandes, mas eu sei que aqui fora vão ser só coisas ridículas.
Você teria feito alguma coisa diferente, se tivesse a chance?
É difícil dizer isso porque, com a visão que a gente tem lá dentro, não dá para mudar as coisas. As circunstâncias são aquelas e a gente faz o que está no coração, age com o que tem de informação, com as nossas percepções dentro da casa. Eu sei que, mesmo se errei, não fiz nada intencional e proposital. A leitura lá de dentro é realmente outra.
Quem você acha que vai chegar à final do BBB 20?
Agora, com as informações de fora, eu acho que quem pode vencer é o Babu ou a Rafa. Mas eu gostaria muito que a Gizelly ganhasse!
Quais são seus planos fora da casa?
Eu sempre quis desenvolver o meu trabalho com as mulheres, falando sobre sexualidade, e não é uma coisa que eu pretendo abandonar. Quero aproveitar o que eu tiver de visibilidade para retomar isso e ver se ela me ajuda a levar a mensagem que eu quero passar ainda mais longe.
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